terça-feira, 11 de dezembro de 2007

juliana diz:
amiga, acho que voce precisa arranjar um bofão
juliana diz:
bofão tipo pedreiro, sabe
juliana diz:
que te coma bunita em pé, na laje
juliana diz:
pra voce parar com frescuras existencialistas
L. diz:
HAHAHAHAHAHAHAHA
minha casa está uma baderna. um caos total. há roupas no sofá, na cama, na cadeira, na poltrona. não tive saco para guardar as peças da lavanderia e fui tirando toalha, calcinha, calça jeans tudo ao mesmo tempo e no liqüidificador. tenho preguiça de arrumar. tenho preguiça de viver. meu coturno esquerdo está ao lado da caixa de som. tenho medo. faltam oito dias.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Mariano estava parado no sinal. O Opala verde escuro estava começando a dar sinais de cansaço: o escapamento tal qual espingarda; as portas e janelas carcomidas pela ferrugem – o próximo seria ele próprio. Um cara veio lhe oferecer duas meninas. Fazem de tudo e do melhor, ele disse, segurando o bigode com os dedos.

Poderia matar esse velho nojento.

A visão daquelas unhas sujas de putaria e fumaça, e sei lá mais o quê, o enojava. Ainda mais segurando aquelas meninas. A de biquíni verde deveria ter no máximo quinze anos. Usava uma sombra azul exagerada para parecer mais velha. Não estava a fim de nada hoje, só de dormir. Além disso, ela tinha uma ferida na boca. Escorria pus. Visão do inferno.

O sinal continuava fechado.

Olhou para a outra menina. Essa não devia ter mais de dez. Usava um biquíni vermelho. Tinha um olhar de cavalo. Arisco e triste. Cavalo enjaulado num hotel fazenda, com crianças lhe bolinando. Adultos tarados, nesse caso.

Quanto é?

10 por uma, 15 pelas duas. Meia hora uma, uma hora as duas e nada mais.

Quanto é para comprar?

Porra, eu já disse, tu é surdo?

Eu quero comprar aquela. De vermelho.

A menina não mexia a cabeça; olhava continuamente para baixo. Nem relinchava.

É, ela é novinha. Chegou tem pouco tempo. Quase virgem.

Aquela expressão revirou o estômago de Mariano. Nem um homem agonizando na sua frente, chorando de dor e desespero, implorando por um perdão alheio – afinal, ele não tinha nada a ver com aquilo – lhe causara tal ânsia de vômito.

Quase virgem.

O sinal continuava fechado.

Mariano olhou para os lados. Criaturas da noite. Traficantes, gigolôs, travestis. Abriu a porta do carro, tirou quinhentos reais da carteira, entregou na mão suada do velho e pegou a menina pelo braço. Ela não esboçou reação alguma.

O sinal abriu.

Colocou a menina no banco do carona, bateu a porta do carro e não disse nada.

O velho saiu alisando o bigode oleoso. Achou que fizera bom negócio.

A .45 continuava no porta-luvas. Não fora preciso utilizá-la.

Qual seu nome?

Ela continuou de cabeça baixa.

Eu não vou te machucar.

Não adiantava: ela não respondia.

Quer um doce?
Que pergunta idiota, Mariano. Você não tem um doce no carro. E essa menina já é tão escrotizada por tudo e todos que nem deve saber o gosto de um brigadeiro.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ás vezes eu penso que nunca vou ser nada, porra nenhuma.

E choro.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Estou escrevendo um novo livro. Contos. Pessoas abandonadas. Pessoas que abandonam.

Vai ficar fo-da.

Nina, vou dedicá-lo a você. Porque só você, no mundo inteiro, entende o significa de "el amor es sexualmente transmisible".
Listas? Ok, listas.

A) Ver os filmes baixados. Procrastinei tempo demais.

B) Baixar: The Good, the Bad and the Ugly; His Girl Friday; Coffy; La Règle du Jeu; Miracle in Milan; Harold and Maude; Last Year at Marienbad e Rashômon.

Deixe-me virar cadáver em frente ao computador. Serei feliz assim.

(Fodam-se aqueles que gritam "abaixo a pirataria". Tomarnocu)

C) Estou dando curso de Educação Cinematográfica. Ha-ha. Sério. É um caso grave. É um caso de hospital. É um ser humano que não gosta de Kill Bill v.1/2. É um ser humano que acha Truffaut chato. Você achar Godard chato, vá lá, mas TRUFFAUT? Aceito indicações, recomendações e camisas-de-força.

D) Férias. Sonhadas férias. Posso exercer toda a minha vertente escrota: aprenderei francês por osmose, com Les Diaboliques.

E) Faltam quinze dias. Quince. Fifteen.

F) Marco Ricca vai dirigir "Cabeça a Prêmio", do Marçal, em 2008. Beto Brant e Renato Ciasca vão roteirizar o livro mais belo já escrito em bom brasileiro: "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", do Aquino. Fico pensando quem vai interpretar a Lavínia. Ah, Lavínia... Eu morreria por ti, Lavínia.

Aquino escreve com sangue; seus livros jorram, sabe cumé? Eles exalam vida, uma vida podre, misturada a desinfetante e pólvora. Baratas roem os personagem de Aquino. E eles são tão belos. Como pode, me explica, como pode alguém ser tão podre e ao mesmo tempo tão cândido? Só Aquino explica.

G) Gostei de Nome Próprio. E Jogo de Cena. E estou digerindo O Passado. Tenho críticas - várias, observações - várias, e alguns elogios. É o melhor do Babenco, certamente. (Lembro quando eu assisti a Pixote, pela primeira vez. Como aquela cena da puta - Marília Pêra - comendo o Pixote me impressionou. Não sabia que mulheres podiam comer homens.)

H) Tô sem saco. Fui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Não adianta, babe. Não adianta.

Ela dizia isso com a maior doçura que era possível para uma letra. Pausado, arrastado, as vogais caindo no chão. a-d-i-an-tá.

Isso era o que o emputecia. Porra. Se é pra terminar, então seja duro, caralho. Então mande à merda. Então vá tomar no cu. Então bata a porta. A doçura dela dificultava tudo, e só aumentava a vontade de arrancá-la de seu lençol com o dia passando devagar, esquecendo de si mesmo.

Mariana calçava o tênis. Penteava o cabelo. Olhava o relógio. Definitivamente ela iria embora. E não havia nada, mais nada, que ele pudesse fazer.

Ela bateu a porta. Não adianta, babe. Não adianta.

Ele ficou. Todo o sábado jogado na cama, olhando o gesso do teto descascando. Manchas estranhas pra caralho se formavam no céu branco de gente podre. Sábado, domingo e segunda. Só levantou na terça feira, quando o cheiro do corpo misturado a cigarro e sol e gesso tava fodido demais. Foi à padaria e a primeira coisa a perguntada:

Como vai Mariana?

Puta que pariu - esqueceu a .45 embaixo do travesseiro. A vontade era dar dois tiros nesse filhodaputa. Porra. Só queria um pão com café e o cara vem me provocar.

Tomarnocu.