quinta-feira, 15 de março de 2012

estou no ônibus das sete horas. o motorista se apresenta como ari, um negão alto, de cabeça raspada e loira. ao meu lado senta uma menina com uma carta na mão; um bilhete, melhor, desses escritos em caderninhos de anotação e arrancados com a espiral e tudo. tem os cabelos negros e uma toalha azul. tento ler o que está escrito (ela lê e relê, a primeira página totalmente escrita, a segunda com três linhas), se detendo em poucas palavras (e só de vez em quando). faz um sol do cacete em são paulo, quase como verão. já é março e ainda é verão (ou: o sol chegou mais tarde em são paulo). atrás de mim, um garoto vê televisão, num desses aparelhos modernos-disco voadores-só faltam falar. à minha frente, um homem de seus cinqüenta anos e quatro filhos lê a veja. por que um homem da veja pega um ônibus para o rio? (talvez superstição. medo de avião.) um senhor passa: óculos de linha e relógio de bolso. ainda fabricam relógios de bolso! um relógio de bolso indo ver o mar pela primeira vez, será? quero te levar para ver o mar, o jardim do mam na quarta-feira à tarde, a deselegância indiscreta das meninas do leblon; segurar tua mão para você dormir e te abraçar todas as minuciosas vezes quando viras o corpo e seguras meus braços em torno da tua cintura. é difícil partir. porque uma costela minha já fica bem aí, encostada às tuas.