quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

uma pausa

uma das razões de gostar demais de blue valentine é que, além de ser um filme verdadeiro, coerente e estupidamente cru, ele fala tão bem desse negócio de minha geração.

me pediram para definir a minha geração em termos razoavelmente compreensíveis. ratos correndo em labirintos? gavetas que se abrem e fecham enquanto as pessoas pulam de uma para outra? completa inabilidade com o mundo real? termos compreensíveis, termos compreensíveis.

um armário caótico: estamos todos insatisfeitos. o major problem não é a estrutura familiar nem o mercado de trabalho - somos nós. sou eu. incômoda com a própria pele. how to disappear completely: everybody cares, everybody understands. é cair entre os fiapos do vestido - desaparecer nas brochuras de lã, enrolar-se todo sem alinhavar sequer um braço.

cindy diz temer transformar-se nos pais. a inabilidade de sentir qualquer coisa com o passar dos anos. cindy quer ajudar as pessoas como médica porque já desistiu de mudar o mundo. (por que você fala desse jeito? é cruel!, dean reclama). cindy tenta construir uma identidade - a vida acontece, outra surge, gavetas abrem e fecham. veja só: cindy não se reconhece.

dean tampouco. dean não queria ser um pai de família - não queria sequer ser o marido de alguém. mas foi isso o que aconteceu, não foi? e ele se adequou a essa identidade. 'mas é só isso que você quer ser?' 'o que você quer que eu seja?'

esbarrar em pontes sem carregar uma mínima rota - talvez seja isso.