segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Estou andando por essa sala de pedra. Penso na história da barraca (você sabe): tínhamos acabado de nos separar e eu ocupava o menor quarto da nova casa. Se abrisse completamente as pernas, atravessava as duas portas. Minha mãe estendia uma corda de varal parede a parede (como ela pendurava? a memória goza de truques baratos; agora parecem soltos no ar, fios desencapados) e por cima, um lençol. Comigo, uma lanterna, um par de binóculos, um livro e um toca-discos recém anos-90, lilás, trazia ainda a gaveta para a fita k7 e antena (infindável em suas dobraduras) das ondas do rádio. Nessa cabana, nesse mundo, o rei era Lupicínio Rodrigues. Dormia no chão, à sombra da casa que fica detrás do mundo, onde se chega em um segundo quando se começa a pensar. Mundo mundo vasto mundo. 

Daqui do sítio vê-se a montanha que os homens construíram para alcançar a lua. Esqueceram de separar a madeira, porém. É preciso conhecê-la, saber de sua raiz se é furiosa ou arredia. Poucas coisas no mundo deveria importar mais que a construção de uma canoa: os homens trazem logo suas bandeiras.