E mais uma vez estou num ônibus para São Paulo; uma gangorra.
Pacientemente deslizo os pés entre as argolas de metal a fim de que o
peso recaia sobre o outro lado. Não adianta muito. Paira por aqui uma
nuvem de palavras, espessas e escorregadias. Estive uma vez em companhia
de Elvis por toda a Dutra; ele estava no Havaí e tocava ukelele. Elvis
nunca esteve em Vegas - sua casa sempre foi Honolulu. Elvis de Vegas é
chato, ridículo, previsível. Elvis de Honolulu tem um toque de rum.
Ainda não chove, mas a vidraça está suja de gotas d'água. Água de outros
dias. Aos meus pés, um senhor de fios dourados; os postes ainda estão
acesos. Eisenstein: um plano deve carregar em si uma parte da informação
referente ao todo da imagem e ao justapor este a outro plano, também
esse carregado de informação imagetica do todo, mas sendo uma outra
parte da forma, atinge-se a ideia do filme. O todo. Os vidros sujos. Os
guindastes solitários - gruas, gruas - do porto, erguendo seu gigantismo
sobre o negro nada. O reflexo do postes acesos ainda sobre duas bolas
castanhas.