sexta-feira, 6 de novembro de 2009

é chegada a hora de dizer tchau a laranjeiras. so long, goodbye. foram 2 anos e 9 meses convivendo com seu antônio, o psicopata do prédio em frente, o vizinho jazzista e seu pai alcóolatra (o grande clichê do 302), o síndico e sua mulher que adorava quando ele viajava, os músicos do quinto andar, o adolescente espinhudo que em 60 meses não aprendeu a tocar gone to be wild, o entregador de jornal, de leite, de princesa, o italiano, o português, o vazio. laranjeiras à noite produz desespero em almas recém-rendidas. caleja-se um pouco, mas chega-se lá.

anteontem, estava dormindo e uns malucos na rua começaram a gritar. malditos. quis jogar o computador pela janela, mas desisti e só coloquei a cabeça. estavam espancando um homem, aparentemente, ladrão de velhinhas. ensagüentou-se ao lado da tenda de frutas.

acordei hoje, com o céu tão azul - poderia ser usado como chroma-key -, e o bafo do inverno carioca no cangote: as flores amarelas estavam espalhadas, agarradas ao asfalto. um tapete dourado de ilusões na rua das laranjeiras.

outro dia, creio na quinta-feira, dormi no ônibus. vinha de uma filmagem de dia inteiro, sol-chuva, praia, tempestade, segura tripé, não morre, não. apaguei. sonhei, até. o cobrador me acordou na porta de casa.

em laranjeiras não tem mercado, não tem padaria, não tem farmácia. o restaurante é italiano, o clube é judeu, a doceira é japonesa. o cineclube pertence a um senhor, amigo de anselmo duarte, que divide as estantes por diretores. duas amigas estilistas dividiam um ateliê na rua das laranjeiras; foram para a gávea, faliram. em muitas madrugadas, a tal rua foi minha companheira - andávamos de bicicleta, contávamos segredo, somente eu e ela.

eu volto. quando os preços do aluguéis forem mais baratos ou quando conseguir comprar aquela casa, no 550.