quarta-feira, 16 de setembro de 2009

das lembranças mais antigas da minha mãe, o dia da morte de getúlio vem em primeiríssimo lugar. dona carmelita, minha avó, chorava copiosamente ao lado do rádio. vestiu ane, minha mãe, com uma seda azul e um laçarote branco; rumaram à casa da minha tia-avó, e a família ouviu reunida os pormenores do enterro de seu getúlio.

hoje em dia minha mãe nem sabe mais ligar o rádio. acostumou-se à televisão.

eu cresci agarrada às barras da saia do rádio da minha avó. minhas noites de insônia eram resolvidas ao som de cartas de amor, conselhos, ironias e uma voz solitária. ia dormir apenas quando ele se despedia - sentia pena de deixá-lo falando sozinho. falta de educação.

hoje, meu rádio nem antena tem. minhas madrugadas são profundamente silenciosas. organizo minha lista musical, ando sempre com um livro ou leio o jornal. sinto falta do rádio - meu amigo nunca foi um serviço de informações, mas apenas isso, um amigo.