segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

talvez a maior invenção dos homens tenha sido inventar que palavras carregam beleza. a palavra cão não morde, como já bem sabemos. de certa forma, diria, aprender o fato de ficar longe do fato de já estar meio que longe de tudo. encher as mãos de sal para construir a antuérpia: não te chama atenção estarmos sempre nos narrando? como não desconfiar de que tudo - a paisagem, o homem, o sentimento - é mera invenção narrativesca - e a quem pertenceria o comando desta narrativa?

a construção do poema como construção de uma, possível, vida. forma de vida. a poesia como via possível de salvação - não uma salvação ecumênica, mas salvação possível. há uma determinada hora em que tanta fragilidade cansa os calcanhares. posar de vítima, arrefecer, estremecer em azul & amarelo & vermelho. animal indefeso, esconder-se debaixo da sujeira das próprias unhas.

a literatura não dá conta dos fatos, mas da repercussão dos fatos sobre os indivíduos: como fazer palavra tornar-se vida e a vida, até então, relegada a segundo plano, ser além através da palavra? a palavra cão não morde, veja lá...

estou sobrevivendo. à chuva, à imundície (própria e dos outros) e às unhas azuis.

veja: veio o sol.