esse foi o ano dos navegadores. este foi o ano do: o quanto foi difícil
escrever um verso quando incorremos sem coordenadas geográficas. e cá
estamos, entre nancy sinatra e as novas emoções. entre todos os amores
que não entendemos; talvez esse tenha sido o ano dos amores que não
anunciam presença. sem qualquer tipo de estrondo, sentam-se e esvaziam
os bolsos: crescem luas, flores antigas, porcelana, rabiscos num papel, o
cheiro da terra depois de ser pisada pela chuva, pela mãe, por uma
paixão qualquer. ano trampolim, a metáfora do salto e esses arremates
baratos; o impulso do pulo tomado por um sopro, sabe-se lá da onde,
talvez desta tão afamada porém nunca vista, terra do nunca. sopro este
do parar. do ir mas talvez quem sabe. da falha do pára-quedas e já não
há como voltar para o avião, digo, para dois mil e doze, porque o tempo é
relativo e o calendário, bem, o calendário é tão ou mais vermelho
quanto o coração. mas eis que o voo segue seu curso (normal?, não
arriscaria a usar tamanha palavra); atravessamos, viramos uma folha
desse dito calendário, fizemos das tripas, coração. ou do coração, a
nossa atmosfera; plainamos seguros, ainda ofegantes do susto, da
possibilidade da tragédia do salto. não fora nenhuma tragédia. ainda
estamos perto do mar e há uma garrafa de vinho para ser aberta;
construímos cidades e as ocupamos com homens, mulheres, areias e
carnavais. as nossas cidades: essas às quais não sabemos nomear ainda.
teremos todos os próximos anos para isso. desse ano, saímos um pouco
tortos, um tanto assimétricos, com certo gás de decolagem. um foguete
espacial, para os mais apressados. a terra um pouco mais segura abaixo
dos pés, para outros. era noite; agora é dia e mais tarde será noite
novamente: e assim abrigam-se os amores silenciosos e precisos, os
braços longos e os copos cheios. ainda não é o fim nem o princípio do
mundo: calma, é apenas um pouco tarde.
domingo, 22 de dezembro de 2013
terça-feira, 9 de julho de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
nós
seis é o número natural que segue o cinco
e precede o sete
seis são os homens que subiram ao castelo
como seis foram os homens
que partiram o sonho
somente seis são as pedras
(que guardam inveja dos pássaros
e
embora não existam seis para serem nomeados
somente há um solstício
para chamares de
(absolutamente teu
verão
e precede o sete
seis são os homens que subiram ao castelo
como seis foram os homens
que partiram o sonho
somente seis são as pedras
(que guardam inveja dos pássaros
e
embora não existam seis para serem nomeados
somente há um solstício
para chamares de
(absolutamente teu
verão
quinta-feira, 14 de março de 2013
{2}
talvez pelo frio de são sebastião
talvez por ter voltado a fumar
talvez por esse anel inquieto no anular
talvez o pina (que me secou as palavras
talvez o azulzyness (propriedade do azul em se espalhar
talvez o ano, estranho esse (segue a rebentar
talvez por isso a insistência
nessa tempestade
crê (mais dia menos dia
seguir em alto mar
talvez por ter voltado a fumar
talvez por esse anel inquieto no anular
talvez o pina (que me secou as palavras
talvez o azulzyness (propriedade do azul em se espalhar
talvez o ano, estranho esse (segue a rebentar
talvez por isso a insistência
nessa tempestade
crê (mais dia menos dia
seguir em alto mar
domingo, 10 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
escute lá
isto não é um filme
ainda que estejamos segurando facas
ou que hoje tenhamos ido comprar nossos
novos nomes
escute lá
as crianças que vêm vindo são
todas nossos amigos, vestidos
de vermelho ou de azul-carmim
(repito: cuidado, isto não é um filme)
e ainda que passeemos com o cão
a tarde vem e nos leva a
fumaça, a fortuna e a caixa de remédios
: da grávida que atravessa a rua,
jogamos um copo d'água [ era vidro
e dissemos: agora, falta apenas
assistir à água correr pelos azulejos do banheiro
poderíamos ter sorrido e dado as mãos, já que viemos
do mesmo substrato: das caixas de
sabão em pó
mas pela última vez, um aviso
não confunda
isto não é um filme
[ não há ninguém lá fora.
isto não é um filme
ainda que estejamos segurando facas
ou que hoje tenhamos ido comprar nossos
novos nomes
escute lá
as crianças que vêm vindo são
todas nossos amigos, vestidos
de vermelho ou de azul-carmim
(repito: cuidado, isto não é um filme)
e ainda que passeemos com o cão
a tarde vem e nos leva a
fumaça, a fortuna e a caixa de remédios
: da grávida que atravessa a rua,
jogamos um copo d'água [ era vidro
e dissemos: agora, falta apenas
assistir à água correr pelos azulejos do banheiro
poderíamos ter sorrido e dado as mãos, já que viemos
do mesmo substrato: das caixas de
sabão em pó
mas pela última vez, um aviso
não confunda
isto não é um filme
[ não há ninguém lá fora.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
talvez a maior invenção dos homens tenha sido inventar que palavras carregam beleza. a palavra cão não morde, como já bem sabemos. de certa forma, diria, aprender o fato de ficar longe do fato de já estar meio que longe de tudo. encher as mãos de sal para construir a antuérpia: não te chama atenção estarmos sempre nos narrando? como não desconfiar de que tudo - a paisagem, o homem, o sentimento - é mera invenção narrativesca - e a quem pertenceria o comando desta narrativa?
a construção do poema como construção de uma, possível, vida. forma de vida. a poesia como via possível de salvação - não uma salvação ecumênica, mas salvação possível. há uma determinada hora em que tanta fragilidade cansa os calcanhares.
posar de vítima, arrefecer, estremecer em azul & amarelo &
vermelho. animal indefeso, esconder-se debaixo da sujeira das próprias
unhas.
a literatura não dá conta dos fatos, mas da
repercussão dos fatos sobre os indivíduos: como fazer palavra tornar-se
vida e a vida, até então, relegada a segundo plano, ser além através da
palavra? a palavra cão não morde, veja lá...
estou sobrevivendo. à chuva, à imundície (própria e dos outros) e às unhas azuis.
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