olho fixamente para as mulheres de quarenta anos
tentando reconhecer
algo ali que seja
meu.
tento descobrir em cada olhar,
pescoço, nuca
em cada rosto cansado pelo naufragar
- ou até pelo êxito -
dos sonhos & dos planos
os meus navios feitos de
areia e sal
ainda sorrirei com o canto da boca
quando minha mãe tiver desaparecido do dia?
revirarei as mãos para trás
- como aquela mulher, ali, em vermelho -
aplainando o cansaço de tanto
tato?
e o cabelo? seguirá feito de vendavais?
a mulher ao lado tem lindos fios de eternidade
pairando sobre as costas
- dançam, os brancos, dançam
maldita incapacidade da visão:
não me é permitido vislumbrar o futuro.
assim sendo, penso enfim como violino,
embalado em suaves ondas de solidão,
sabedoria e tempo.
talvez um dia, consiga.