sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

a uma delicadeza

ela, para quem os pássaros e os deuses renegam passagem (espiritual ou não), para quem a fé transformou-se em curva além do horizonte, para quem a estrada, enfim, cansou-se e enterrou um semáforo, acordou feliz, pois sim. estava no rio de janeiro, e a bem da verdade, não havia gostado dessa cidade montanhosa e feia quando viera nos idos de mil novecentos e oitenta - mas agora, agora era outra situação, repleta de love love love all you need is love e amigas loiras dividindo uma cerveja no bar. minha amiga, eu entendo e compreendo: também crio situações assim, onde o silêncio faz morada e qualquer aperto de mão torna-se uma cachoeira na noite escura. mas para tudo há um limite, não vêes? também tenho medo do caos; pior ainda: o caos, a noite e a vontade de se embrenhar no caos. porque é muito sexy fazer parte do caos. mas divago.

veja bem, minha bela delicada, há que se ter alguma responsabilidade sobre o que se faz quando se acorda. virar as costas para a esquina é tirar o cu da reta - é aplainar o espelho, deliberadamente retirar o pé da lama. quem me dera não acordar na manhã seguinte, me embolar na metafísica e falar de amenidades todos os dias. quem me dera deitar no sofá e diminuir a cada tarde e quando a noite chegar ser apenas uma criança. nos estupraremos todos os dias, com a consciência. mas divago.

de cada amor, tu herdarás só o cinismo, ele disse e nós repetimos em vão. no vão da porta, baixinho, segurando as lágrimas que é para não deixar o john wayne aqui dentro escapar. precisas aprender a viver, delicada. e a deixar morrer.