sábado, 15 de maio de 2010
mãe, você me diz que se sente tão sozinha, e eu não falo nada, porque eu também me sinto [ às vezes ], e não quero, de jeito algum, que com toda essa bagagem psicanalítica - você entende, não é, mãe? tenho pulado alguns muros e sempre quando acontece, os joelhos voltam esfolados - até torci um pé nessa brincadeira de saltar distâncias -, e tenho pintado os olhos também, acho que finalmente compreendi esse tal de ser mulher, mãe; tenho amado algumas pessoas, mas nenhuma absolutamente necessária; vou refrasear: nenhuma para quem eu tenha entregue meu chão, minhas rachaduras e meus livros de ana cristina cesar; seria medo ou precaução? seria a medida exata entre não se ferir e trafegar livremente pela rotatória, mãe? não tenho saudade alguma da bahia, desculpe, mãe, mas ando pensando ultimamente em trocar de cidade e jogar essa casa inteira de santa teresa pela janela, esquecendo as chaves no caminho para ninguém me achar [ tudo bem, você pode dizer, mais uma vez, que a fuga das galinhas madrugada afora não apaga os incêndios nem paga as taxas ], e de qualquer forma, a navegação segue sempre a bombordo do barco. mãe, lembra sempre que, qualquer lugar desse mundo em que esteja, amando qualquer um que seja, lembra daquilo que você me disse, há muito tempo atrás, quando eu me escondia de medo do mundo debaixo da cama: somos nós contra eles, todos os dias.