não, não quero esse copo, essa delicadeza de junho no rio de janeiro, nunca fui muito delicada, você bem sabe, não sei contar piadas (resvalo insegurança com humor; nem sempre funciona). pois bem.
relacionamentos têm prazo de validade, você não vê? o que tivemos foi apenas nosso, e um dia, quando estiver casado com uma mulher muito boa, de dentes muito finos e brancos, alinhados à felicidade geral da nação, você também terá algo inteiramente particular com ela. universos diferentes; a todo tempo morremos um pouco debaixo das escadas.
[ não significa, meu doce, que não saiba usar o silêncio ].
conto uma nova: os vizinhos consertaram a campainha. preferia que mantivessem-na quebrada, na verdade - ruídos me irritam, a possibilidade de alguém vindo me tirar do sofá me apavora. por isso saio antes; tenho saído muito, andado y andado y andado por essas ruas do rio de janeiro no início de inverno. (você lembra do nosso primeiro inverno aqui? não tínhamos cobertor, éramos apenas esperanças e boleros).
de resto, todos passam bem, minha mãe está de férias, papai em paris, o filho de pan já vai nascer e gui recebeu, afinal, as chaves do apartamento. estamos todos em progressão geométrica (alguns para trás, outros para os lados): não era óbvio começar com uma separação? hoje parece tão mais fácil...
acredite: de mim, vai apenas o melhor. agora é pagar contas, ser feliz alguns dias e beber além das duas doses recomendadas nos outros, comprar uns amores aqui, chorar baixinho no ombro de outrem e quem sabe um dia, andando pela covent garden, eu não te reconheça com a digníssima, dois filhos no colo, e sorria, sabendo que nós fomos muito felizes um dia e agora você está em outro degrau da cadeia alimentar.