encontrei, hoje mais cedo, na fila do cinema, uma prima de minha mãe. perguntou-me, sem muita fé: "você é letícia? eu sou teresa". o engraçado é que quando tomava um café, vinte minutos mais cedo, notei aquela mulher solene, de ar imperial, como se a conhecesse. pensei se tratar de alguma escritora ou jornalista que tivesse lido sobre no globo.
do pouco que lembro da casa de teresa (estive lá duas vezes no máximo, contando que na última eu tinha treze anos), havia muitos quadros: seus, de seu irmão, de minha tia-avó. na família castro, todos beiram o abismo (e alguns até foram engolidos pela água). família de mulheres fortes e solitárias, mesmo com a casa cheia. (principalmente com a casa cheia). meu tio-avô se enforcou. meu tio, arquiteto, é dono de um olhar verde-desesperado. meu irmão, pintor, já enterrou dois carros no esgoto de salvador.
as mulheres resistem. teresa é especialista em luz; heliana, em teoria da literatura (com determinado ressentimento); carmelita, em santos. antes de qualquer medéia, são todas cassandras, em suas torres de conhecimento, desacreditadas por gregos e troianos.
assistimos ao mesmo filme, mas em cadeiras diferentes: as recordações de um palestino desde 1948, quando Nazaré foi tomada pelo exército israelense. antes de apagarem as luzes, acenei discretamente, ela sorriu. saí antes dos créditos. não quis provocar situações.