quarta-feira, 9 de junho de 2010

querida b.,

nossos tempos não são sutis. não são delicados: eles atropelam nosso silêncio. tentamos dormir, mas eles forçam a entrada [ em verdade, não exatamente forçam: demos a eles a cópia das chaves ]. prostrada diante de um muro (verde), imagino uma saída - fugir? desistir? esmorecer? quando não mais conseguimos navegar, diante de tantos pontos e vírgulas, muito menos atracar os barcos, já que os portos não são seguros, o impasse transforma-se em calendário - o seguir rotineiro dos dias. o mais estranho é termos seguido todas as regras à moda da casa: meninas honestas, bem criadas, alimentadas corretamente e repletas de dedos nas mãos. (o esforço se mostrou inútil: a casa muda suas próprias regras).

tento, então, fechar os olhos. eis que a campainha soa: eis um homem, muito bem vestido, paletó bem cortado, que sabe falar ao menos sete línguas e traz consigo as últimas novidades de paris; eis um homem bem sucedido. tenta vender-me uma mala, digo que não tenho para onde ir; tenta vender-me um tapete, digo que não tenho sequer um chão; tenta estender-me uma mão, digo que não mais tenho braços. ao fim, já cansado, estende-me uma placa: estacione aqui. e se vai, levando as cortinas.

b., ao cabo e ao fim, lembremos sempre: começar pelas médias, depois para pequenas e por fim, as grandes.