você pode me afirmar - com bastante pertinência, aliás -, que não vai pagar para ver mais um filme estranho e bizarro do terry gilliam, especialmente um filme em que o ator principal morreu no meio das filmagens. você pode me perguntar ainda (essa já sem tanta pertinência) qual a graça em assistir uma fábula se ela não está em 3d. e por último, você pode sorrir e simplesmente argumentar que o roteiro de parnassus não tem pé nem cabeça e tem mais buracos que a uruguaiana.
e eu respondo: honey-pie, nada disso importa.
n ão importa porque parnassus não quer fazer sentido - e que maravilha é quando gilliam aparece nas nossas vidas não querendo fazer sentido! existem diretores que dizem não querer fazer sentido - mas ficam profundamento irritados se você não os leva a sério. gilliam é mágica, é fábula - é toda a vida que você gostaria de ter e não tem. (tipo quando você tem treze anos e quer que seus pais morram).
não seria absolutamente incrível poder viver em um mundo comandado pela imaginação? sem contas a pagar, sem documentos a serem autenticados, sem frustrações - apenas escadas gigantescas rumando ao céu, pula-pula em forma de vitória-régia e nuvens lilazes. todos os seus mais loucos sonhos (lembra daquele em que havia um plástico-bolha gigantesco cor de rosa neón?) acessíveis do outro lado do espelho.
mas aí, você - novamente, bastante sagaz - completa: onde está a tragédia? gilliam é o homem dos finais absurdos! e eu te respondo: a tragédia, meu amigo, está em não poder viver a vida dentro do imaginarium.
(nunca gilliam foi tão cruel.)