no meu tempo de garota
minha mãe me disse:
você deve ser uma dançarina.
e eu lembro desse pensamento que me atravessou:
eu vou dançar com o mar
ao lado do vento
dentro da noite.
no meu tempo de rebelde
folhas despedaçadas por meninos domesticados
meu pai dizia:
cuidado com a solidão.
é preciso ser doce,
com íris onduladas
rios derretidos
e sonhos que flutuam.
e eu lembro de uma noite que me atravessou
perdida no êxtase de qualquer alguém
o céu transformara-se em
palavras.
nunca estive tão azul, creio.
mas agora,
agora que sou neblina
invadindo as ruas,
em direção às árvores selvagens de um julho tão calmo
eu digo:
eu vou dançar.
eu vou dançar com a alvorada solitária
em meu vermelho, muito vermelho
salão de baile.