quarta-feira, 11 de agosto de 2010

yoga

uma lágrima correu e fernanda a ignorou: pensou ser suor. juntou as palmas das mãos e recomeçou o mantra da paz: paz universal, paz para todos. a lágrima caiu mais forte. seguiu-se a outra e a outra e a outra: fernanda irrompeu em um desespero profundo, gritante. o professor veio em socorro e fernanda não teve coragem de dizer: não sinto paz; não posso desejar paz a ninguém. (arrancaram meu braço, meu útero, minha perna). saiu da sala alegando apendicite (doença de família).

debaixo de água fernanda tem ódio, dele que me entregou destroços, que agora mente e inventa um luto qualquer de quarta-feira ao meio-dia: não foi você quem tornou-se vazio. a dor que acelera as minhas paredes na madrugada não corre nas suas veias brutas, correm sobre meu sono, que tornou-se incômodo. que tornou-se choro de um nada. vela de sete dias de um nada. arranco de segunda o carro já quebrado - para um destino nada.

fernanda, que ainda preservava escondida na primeira gaveta da cômoda do quarto uma vermelha inocência, chegou em casa e deitou sobre as roupas desencontradas pelo chão.

o teu nome é veneno, veneno covarde em pedra-bruta. fernanda chorou.