as coisas que doem são minhas e tão somente minhas; não são devaneios nem castigos divinos, são dessas dores que carrego por me perder em sentimentos, sentimentos finos como a linha que traço no papel e que o professor de desenho reclama por não ter firmeza, a tal da firmeza dos experientes, dos praticantes. nesses dias não carrego nenhuma prática, apenas tentativas, marteladas, aliás, de ser qualquer coisa além; antes de ser mulher, qualquer matéria humana, qualquer ponto acima dos círculos de gravidade onde insisto em cair. o professor de desenho fala-me sobre texturas, grãos, matizes e tonalidades; cerdas de pincéis. pois no momento resido em tela preenchida, borrão sem criatividade. meu gato azul espreita, calado, à espera do momento exato para deitar-se cansado no colo; mas meu colo, também cansado, já fugiu para outro lugar.