segunda-feira, 16 de agosto de 2010

mala

existe uma mala perdida em são paulo. perdida, não: esquecida, já que eu sei onde ela está - no canto da sala, encostada ao sofá -, com quem está - lucas, um dos poucos remanescentes elos com salvador - e onde - na consolação. o que mais incomoda não é a falta da mala (realmente, minhas melhores roupas estavam ali, assim como aquela sapatilha que tanto bem fazia aos pés), mas a presente inexistência da circunstância que levou ao esquecimento da mala.

depois que todos foram embora, restamos nus em são paulo. nus nos nomes, nas contas, nos calendários, nas canetas. não havia necessidade sequer de falar: as palavras já moravam em nossas mãos e com elas construímos estradas para lugar algum. não havia necessidade de promessas, porque saberíamos serem todas falsas - o signo da mentira deslavada não cabia debaixo daquela noite tão grande.

portanto, os relógios foram atrasados para a hora de partir; restou um choro seco. dentro, uma recaída infantil: o início de uma promessa - não fala, eu não quero saber. eu não estou aqui, eu não estou lá. o silêncio ainda é a minha melhor visão. a minha lágrima ainda é propriedade particular e será guardada no baú das trivialidades - aquele onde, por ora, guardei você também.