marcos já tinha bebido, vomitado, esgarçado a pele dos cotovelos, dormido na esquina - até acendido vela na encruzilhada da casa da mãe com a vizinha, que o surpreendeu na madrugada, 'quer um cházinho, meu filho?' - quando ouviu falar de um livro. ouviu falar, não: ouviu bem dito, recomendado pela amiga que já não aguentava mais pagar a conta do bêbado. "é um livro muito bom, marcos, minha chefe me recomendou quando vovó tininha morreu, ficou aquele azedo na família, eu mesma não sabia direito para onde ir, e se você quer saber, não é auto-ajuda não, marcos, é uma leitura totalmente diferente, que te faz entrar no seu eu, lembrar de suas vidas passadas e até olhar diferente para o futuro, assim, uma coisa de pele mesmo".
na quinta-feira, com a previsão de um fim-de-semana de sol no rio de janeiro - ela escorrendo pela geladeira -, com picos de quarenta e quatro graus na cidade maravilha - ela abrindo todas as portas -, e um prospecto de bares entupidos de CASAIS sedentos e FELIZES, a única saída foi o caminho da liberdade.
na quinta-feira, com a previsão de um fim-de-semana de sol no rio de janeiro - ela escorrendo pela geladeira -, com picos de quarenta e quatro graus na cidade maravilha - ela abrindo todas as portas -, e um prospecto de bares entupidos de CASAIS sedentos e FELIZES, a única saída foi o caminho da liberdade.
era um livro curto: setenta e cinco páginas. frases soltas. muitas perguntas - poucos verbos no imperativo. marcos - os dez quilos a menos tinham-no transformado em um garoto chorão; a barba por fazer o confundia com um pedinte qualquer de botafogo - abriu na página 49.
uma pergunta:
se você tivesse que escolher agora, qual teria sido o momento mais feliz de sua vida?
como um trailer de filme b, cenas de luiza foram se sobrepondo: luiza tomando banho - corta para - luiza cozinhando omelete - corta para - os peitos de luiza - corta para - luiza e marcos comprando um beagle - corta para
marcos, enquanto você se fodia limpando cocô desse beagle hiper ativo que comeu - e regurgitou - a planta do projeto da odebrechet, eu conheci um norueguês que vai me pagar uma passagem para rodar a europa, um be-
página seguinte:
o que falta hoje para atingir esse momento de felicidade plena?
já que sem luiza jamais viveria e luiza jamais teria novamente, marcos, sentado em um banco às duas e quinze de uma quinta-feira na voluntários da pátria, considerou duas possibilidades: a) virar pastor e entregar o corpo a deus ou b) virar veado. ambos os casos seriam complexos e passíveis de análise já que marcos era a) ateu e b) nunca tinha considerado outro ser na sua vida sem ser luiza. haveria curso? talvez fosse o caso de procurar o conselho psicológico da odebrechet.
abriu em outra página do caminho para a liberdade:
profundas mudanças exigem grandes esforços.