existe uma padaria aqui na glória, apelidada carinhosamente por moi de "a melhor padaria do rio de janeiro". obviamente, não é. mas é a única que abre religiosamente às quatro da manhã (sempre disponível nas noites de perdição & luxúria) e encerra às onze da noite (sempre atenta aos desejos & às carências). há um biscoito de farinha de trigo & manteiga & ovos, em particular, idêntico aos que a minha avó fazia. desses que metade do saco está queimada e a outra, crua. desses que se come assistindo à reprise de roque santeiro durante a aula de matemática. dona carmelita tentou me ensinar diversas coisas acerca da vida, dos homens, das frustrações e de tudo o mais que corre por debaixo do tapete, mas eu, rebelde, sequer dei ouvidos. não aprendi a rezar para encontrar amores perdidos, perdi a receita da suposta torta de bacalhau para dobrar chefes & sogras e jamais consegui enfiar a linha na agulha de costura.
dela, guardei todos os discos de caetano, de cely campelo e dos beatles. aprendi a andar no ônibus de graça (só praticável até certa idade, crianças), a fingir sapiência no francês e a pentear o cabelo para o lado esquerdo todas as vezes que a vida andasse errada (que é para o vento soprar do lado certo). vejam vocês, apenas as coisas erradas.
dela, guardei todos os discos de caetano, de cely campelo e dos beatles. aprendi a andar no ônibus de graça (só praticável até certa idade, crianças), a fingir sapiência no francês e a pentear o cabelo para o lado esquerdo todas as vezes que a vida andasse errada (que é para o vento soprar do lado certo). vejam vocês, apenas as coisas erradas.