sem nem saber por quê, alice saiu catando folha atrás de folha na estante preta, procurando um número de telefone, um sobrenome, uma indicaçaõ de rua (ao lado da padaria? perto da escola são luís? onde, deus, onde?), uma seta para se guiar. tinha apenas o nome, a porcaria do nome, e um e-mail velho, porque claro que seis anos depois ninguém usa o mesmo caralho de e-mail. o mundo era mais fácil quando as pessoas não perdiam senhas, a telemar cobrava caro por uma assinatura de telefone (então, as grandes famílias brasileiras tinham uma e tão somente uma linha) e a inscrição na lista telefônica era obrigatória. nem alice tem registro na lista. e olha que ela tenta fazer parte da sociedade.
e eis o começo: sentada em um banco, à espera de uma entrevista, ela o vê. alice calcula rapidamente seis anos - cresceu cinco centímetros, o cabelo escureceu, a calça jeans continua no mesmo tom de azul. o que está diferente? nada. mantém até o cavanhaque. olha para baixo: ela sim, está diferente. talvez seja por isso que ele fale nada: não a reconheceu. acalenta essa hipótese por alguns minutos. seria? será? tão diferente isso?
não, claro que não. maracas, por favor.
revira e vira caderno: fotos do início do século, dez, doze anos atrás. mue deus, quanto tempo passou e eu não vi, só alice que não viu. O relógio anda, as horas passam: é impossível encontrar uma indicação desse ser. para onde foi, para onde vai; ficaram apenas os minutos minutos minutos manchados de passado.
[continua]