engraçado como quando uma parte da vida anda, todo o resto do bolo desanda. ana morde o canto dos dedos quando tem raiva - afinal, a vida deveria ser como numa parada militar, se a frente anda, todo resto atrás segue. mánumémermo.
daí que a pia ainda está entupida, a descarga já anda um tanto quanto exaurida - a pessoa aperta e a água continua a cair, cair, cair -, a cortina da sala nunca mais baixou e as roupas sujas se acumulam ali, ao lado do armário.
ana tentou comprar soda cáustica para a pia da cozinha, mas nem isso deu jeito. resolveu deixar a água suja do jeito que estava. um dia todos engolem, com o cano não será diferente. os canos. vontade de se meter num desses e ir parar em outra cidade, outro país, no japão.
mas que engraçado. não era para se sentir assim, com vontade de sumir quando os concursos, as provas, os ritmos, os dias, as reuniões andam tão bem, quase a pés descalços. na verdade, ana pensa, é questão de conviver com esse pesar no coração - de não saber nunca aonde pertence.
a pia continua entupida.