"eu te escrevi poemas de sonhos e dor; falei do seu cabelo loiro aos sábado, quando você se arruma e vai à feira, dos seus pés retorcidos e masculinos, falei até do pequeno sinal atrás da orelha esquerda que você insiste em cobrir com o cabelo.
estrofes inteira foram gastar nas suas pernas, nos domingos sem sol em que meu sofá tinha o grato prazer de receber as suas coxas quentes. (poucos, poucos). gastei papéis inteiros - ainda mai agora, com essa moda de consciência ambiental - descrevendo seus caminhos tortos, e as infitas possibilidades (não aproveitei, eu sei, eu sei).
tentei desenhar-te uma vez. mas não cabia. na tinta, na tela; reprodução nenhuma seria fidedigna.
até hoje, de madrugada, quando encontro uma bituca de cigarro sua - você ficaria orgulhosa, parei de fumar - embaixo do sofá, tenho vergonha de mim por ter recusado o abismo. o seu, você bem sabe."