começou assim: estamos terminados. você vai, tem seu filho, aninha-se na nova casa, assume outro nome e guarda as réstias de sol em baús arejados. eu sofro pra caralho, arrumo minhas malas - as esburacadas e as perdidas -, encontro uns homens aqui, outros ali, e tudo fica muito bem. tudo muito bem. passam-se alguns dias, você de óculos escuros me oferece uma carona: não, não, mas o trânsito do rio de janeiro é tão infame, vou esperar mais um pouco, tem certeza, olha lá, não quero que chegue atrasada, desligo o celular e esqueço do táxi. estamos terminados, digo e repito. com ênfase e negrito. penso nas letras que deixamos de escrever, nas cores que perdemos dos poemas nunca revisados, do gosto do vão aberto da sua boca. estamos terminados, você lembra. mas segura a mão direita (a minha, eu quis dizer). escrevo um bilhete canhestro na sua orelha: estive lendo um conto de chorar; queria ler para ti algum dia. na outra orelha, tua frase: também guardo coisas para te contar um dia.