estou bebendo desde ontem, oito e meia da noite. já se foram coquetéis de morango, lágrimas, filmes, e agora uma garrafa de vinho chileno à espera no congelador.
em um ano, troquei um apartamento por uma casa, casei, virei mãe, abandonei dois empregos e comecei a viver exclusivamente de cinema. de estagiária a assistente de direção. abandonei a três por quatro a faculdade, em alguma birosca suja da esquina. mas consegui terminar o penúltimo semestre com louvor - imagine. minhas dúvidas até cessaram. mas eis que estão de volta. são sempre benvindas. e ainda que eu tenha mandando às favas o jornalismo, feito o curta, recebido prêmio, iniciado um segundo e começado um longa-metragem sobre o assunto que mais me fascina nessa pequena existência, ainda assim, imagino como deve ser a vida de uma diplomata. e se essa vida não poderia começar a ser minha.
em outubro, conheci a cidade que irá me abrigar próximo ano: londres.
parei com a prosa. me dediquei à poesia. nunca escrevi tanto. nunca mostrei a tão poucos. voltei a pintar e não mostrei a ninguém.
minha filha acabou de agarrar uma maçã. não consigo parar de olhar.
comprei um carro. para ser mais um poluente na terra. mais um estressado do trânsito. mais um no posto de gasolina. mais a um a fazer mochilão pela américa do sul de fusca.
assinei contratos. de casa, de emprego, de confidencialidade, de empréstimo.
em novembro, não engoli sapo. ele foi demitido. não doeu. achei que fosse.
não sei para onde vou; quero ir para longe, um lugar de muitos rios e sem esse som frenético de caminhões. costumava gostar das cidades e de suas inúmeras histórias, mas faz parte da minha nova índole contar apenas a minha.
mas não sei como começar;