existe algo em relação ao medo. não é o amor que come sua identidade. é tudo muito bonito no papel, no palco, sob luzes e holofotes - mas identidade mesmo quem come é o contrarregra.
porque medo, veja bem, é regurgitar sonhos. assim, na metáfora barata porque somos todos muy muy baratos e habitamos en miami, chica. medo é a ana, a vizinha do 902, com quem você brincava de pega-ladrão, mas nunca conseguiu emitir nenhum som além de "peguei". daí que a ana tá hoje casada com um dentista, fez uma reforma de porcelana tem pouco tempo e você taí, vendo televisão do lado de alguém que nem sabe quem.
ter medo de ladrão é muito fácil, é esperado, é o rotineiro, café com bolo de cenoura. outra coisa é o carro furar no início da estrada, e o céu, negro e estrelado como nunca, engolir suas frases. a pé, em uma escuridão sem fim, e sem lugar pra ir - é uma estrada, não sabe?
não é o medo de receber rosas e ser uma bomba - é de receber as mesmas rosas e não ter a mínima idéia de quem as mandou, porque não há ninguém. o mais lógico, então, seria mesmo ser uma bomba. mas não é.