terça-feira, 24 de novembro de 2009

do abajour

manuela acendeu a luz furiosamente. nunca imaginou que um advérbio - ainda mais esse, cheio de som - fosse caber para essa situação. mas foi. furiosamente. eduardo havia insistindo em comprar o abajour. porque iria combinar com a mesa ao lado da cama. não adiantava pingar, todos os dias, a conta de luz, o barulho do botão, as interrupções noturnas. sem luz, se é obrigado a dormir (quando não consegue dormir, manuela imagina uma gangue de traficantes invadindo a casa na madrugada; precisa fazer silêncio, muito silêncio, antes que percebam a dona irrequieta). mas agora eduardo possuía a maior das invenções humanas: o abajour. azul, ainda por cima. antes tivesse tido apagão. manuela virou-se de costas. andando sobre nuvens e tragédias, aliás. leu outro dia em um livro. de quem é essa frase? (pensaria melhor sem.) manuela não anda, desagüa. nuvens não agüentam; mas ainda se agüentassem, provocam muita luz em muitas formas. e manuela é uma só.