esse foi o ano dos navegadores. este foi o ano do: o quanto foi difícil
escrever um verso quando incorremos sem coordenadas geográficas. e cá
estamos, entre nancy sinatra e as novas emoções. entre todos os amores
que não entendemos; talvez esse tenha sido o ano dos amores que não
anunciam presença. sem qualquer tipo de estrondo, sentam-se e esvaziam
os bolsos: crescem luas, flores antigas, porcelana, rabiscos num papel, o
cheiro da terra depois de ser pisada pela chuva, pela mãe, por uma
paixão qualquer. ano trampolim, a metáfora do salto e esses arremates
baratos; o impulso do pulo tomado por um sopro, sabe-se lá da onde,
talvez desta tão afamada porém nunca vista, terra do nunca. sopro este
do parar. do ir mas talvez quem sabe. da falha do pára-quedas e já não
há como voltar para o avião, digo, para dois mil e doze, porque o tempo é
relativo e o calendário, bem, o calendário é tão ou mais vermelho
quanto o coração. mas eis que o voo segue seu curso (normal?, não
arriscaria a usar tamanha palavra); atravessamos, viramos uma folha
desse dito calendário, fizemos das tripas, coração. ou do coração, a
nossa atmosfera; plainamos seguros, ainda ofegantes do susto, da
possibilidade da tragédia do salto. não fora nenhuma tragédia. ainda
estamos perto do mar e há uma garrafa de vinho para ser aberta;
construímos cidades e as ocupamos com homens, mulheres, areias e
carnavais. as nossas cidades: essas às quais não sabemos nomear ainda.
teremos todos os próximos anos para isso. desse ano, saímos um pouco
tortos, um tanto assimétricos, com certo gás de decolagem. um foguete
espacial, para os mais apressados. a terra um pouco mais segura abaixo
dos pés, para outros. era noite; agora é dia e mais tarde será noite
novamente: e assim abrigam-se os amores silenciosos e precisos, os
braços longos e os copos cheios. ainda não é o fim nem o princípio do
mundo: calma, é apenas um pouco tarde.