na estação um cansaço de
ter tragado duzentas manhãs
a língua enrola nos últimos passos
arreganha a fronteira
imediatamente você fecha os olhos
são toneladas de peso para
cruzar a última linha
àquela onde não se ouvem mais gritos
um baixo senhor puxa o tapete vermelho, porém
quem é você, verker?
estará verker conosco?
hoje verker lê poemas?
enquanto você se movia no café de kreuzberg
ocasionalmente
foram notados lampejos de felicidade
heart in a cage
domingo, 7 de dezembro de 2014
procuro uma história pra contar procuro uma história pra contar procuro uma história pra contar
há quase um ano não escrevo uma linha de poesia. ouço, observo, me disperso muito. fomos ao mauer park hoje. do que mais gostei: os refletores imensos voltados para o lado além do muro. as árvores retorcidas. verde escuro, vinho, terra. e azul claro. um azul muito claro. talvez falte capacidade de abstração. me disperso em imagens caudalosamente em imagens. não sei se é exatamente tristeza, prefiro acreditar mesmo em distração. ou talvez esta seja mesmo a dança.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
lá fora as folhas todas virariam
amarelas
não fossem verozmente engolidas
pelo homem no trator com
sua garra faminta gigante metal
apruma e arranca apruma e arranca
apruma e arranca
apruma
quem dera assim fossem todas as manhãs
aquele momento diário de reunir as
últimas porém ilhas de coragem
o braço quer ir longe cresce
zás
arranca do corpo tal qual a máquina
sai sozinho espirrando sangue e
retirando as folhas da vinha
arranca arranca arranca
porque ainda há muito amarelo para ser recolhido
lá fora
e as ilhas diárias precisam
de muita areia
amarelas
não fossem verozmente engolidas
pelo homem no trator com
sua garra faminta gigante metal
apruma e arranca apruma e arranca
apruma e arranca
apruma
quem dera assim fossem todas as manhãs
aquele momento diário de reunir as
últimas porém ilhas de coragem
o braço quer ir longe cresce
zás
arranca do corpo tal qual a máquina
sai sozinho espirrando sangue e
retirando as folhas da vinha
arranca arranca arranca
porque ainda há muito amarelo para ser recolhido
lá fora
e as ilhas diárias precisam
de muita areia
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
E mais uma vez estou num ônibus para São Paulo; uma gangorra.
Pacientemente deslizo os pés entre as argolas de metal a fim de que o
peso recaia sobre o outro lado. Não adianta muito. Paira por aqui uma
nuvem de palavras, espessas e escorregadias. Estive uma vez em companhia
de Elvis por toda a Dutra; ele estava no Havaí e tocava ukelele. Elvis
nunca esteve em Vegas - sua casa sempre foi Honolulu. Elvis de Vegas é
chato, ridículo, previsível. Elvis de Honolulu tem um toque de rum.
Ainda não chove, mas a vidraça está suja de gotas d'água. Água de outros
dias. Aos meus pés, um senhor de fios dourados; os postes ainda estão
acesos. Eisenstein: um plano deve carregar em si uma parte da informação
referente ao todo da imagem e ao justapor este a outro plano, também
esse carregado de informação imagetica do todo, mas sendo uma outra
parte da forma, atinge-se a ideia do filme. O todo. Os vidros sujos. Os
guindastes solitários - gruas, gruas - do porto, erguendo seu gigantismo
sobre o negro nada. O reflexo do postes acesos ainda sobre duas bolas
castanhas.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
a uma semana de encerrar a temporada na praia, o coração percebe-se menor. um ano e meio de são paulo é suficiente para dizer: não há nada como o sal. há pessoas feitas para o concreto, há pessoas feitas para a areia. lição apreendida. as águas mapeadas são mais tranqüilas que a terra e se nos mantivermos quietos, estaremos longe e ainda dentro. de todo modo, é preciso dizer adeus para o navio seguir viagem (i.e. meditar à condição de náufrago). continuemos as atividades: pôr e retirar palavras, pôr e retirar lençóis, pôr e retirar arbítrios. levo comigo a água: nos poros, nos fios, no fígado. é preciso um largo fígado para encarar esta cidade. existem deuses e eles pairam. o meu é o mar.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Estou andando por essa sala de pedra. Penso na história da barraca (você sabe): tínhamos acabado de nos separar e eu ocupava o menor quarto da nova casa. Se abrisse completamente as pernas, atravessava as duas portas. Minha mãe estendia uma corda de varal parede a parede (como ela pendurava? a memória goza de truques baratos; agora parecem soltos no ar, fios desencapados) e por cima, um lençol. Comigo, uma lanterna, um par de binóculos, um livro e um toca-discos recém anos-90, lilás, trazia ainda a gaveta para a fita k7 e antena (infindável em suas dobraduras) das ondas do rádio. Nessa cabana, nesse mundo, o rei era Lupicínio Rodrigues. Dormia no chão, à sombra da casa que fica detrás do mundo, onde se chega em um segundo quando se começa a pensar. Mundo mundo vasto mundo.
Daqui do sítio vê-se a montanha que os homens construíram para alcançar a lua. Esqueceram de separar a madeira, porém. É preciso conhecê-la, saber de sua raiz se é furiosa ou arredia. Poucas coisas no mundo deveria importar mais que a construção de uma canoa: os homens trazem logo suas bandeiras.
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